Professor da estrada
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Arthur Simões veio do interior para São Paulo com o objetivo de estudar direito. Tirou boas notas e foi premiado na Faculdade Mackenzie por sua monografia sobre desobediência civil. Formado, guardou o diploma e preferiu ficar longe de qualquer expressão em latim, das petições, dos ternos e das gravatas. Imaginava-se viajando pelo mundo, montado numa bicicleta.
Desde criança, Arthur tinha o hábito de fazer longos passeios de bicicleta. O hobby foi se aprofundando com a idade: adolescente, começou a rodar pelas estradas. Fazia parte de sua rotina ir pedalando até São José dos Campos, onde mora sua família. "No ano passado, o hobby virou coisa séria."
Desde então, ele pensava em transformar o ciclismo numa profissão. Seu projeto era mais complexo do que realizar uma atividade esportiva: queria combinar o prazer pelas estradas com seu gosto pelo estudo. Até que teve uma idéia, viável graças à internet. Como já tinha um site (pedalnaestrada.com.br), pensou em relatar virtualmente sua expedição para estudantes conectados na rede.
Em parceria com escolas, seu projeto visa relatar costumes, histórias e curiosidades dos locais em que estiver passando e responder às perguntas dos alunos. "É um jeito de ajudar nas aulas de história e geografia." Com esse plano de aulas, conseguiu um patrocinador - a empresa farmacêutica Bristol-Myers e vai começar, em abril do próximo ano, a volta ao mundo, prevista para três anos.
A jornada se inicia em Londres rumo à África, cruzando Ásia e Oceania, voltando pelas Américas -alguns trechos serão feitos de navio ou avião. Na bagagem, além dos apetrechos necessários para um ciclista, irão também alguns livros para ajudá-lo a dar informações aos estudantes.
Talvez influenciado por sua premiada monografia, Simões rebelou-se contra a carreira que lhe estava destinada. Nessa desobediência, ele está inventando um novo tipo de professor -o professor das estradas. "Isso me atrai bem mais do que a sisudez dos tribunais."
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